Pular para o conteúdo principal

História Antiga #2 - Um Breve Resumo Sobre a Civilização Mesopotâmica.




Civilização Mesopotâmica.

Mesopotâmia: palavra de origem grega e que significa “entre rios”; essa é também uma das principais características dessa região. Localizada no Oriente Médio, entre os rios Tigres e Eufrates. É considerada um dos berços da civilização, onde por volta do VI milênio a.C as primeiras cidades surgiram como resultado culminante de uma sedentarizarão da população e da revolução agrícola (ocorrida no período Neolítico).
Nessa região passaram diversos povos, nômades de muitas regiões diferentes. A terra fértil fez com que alguns desses povos ali se estabelecessem. Através do convívio entre muitas destas culturas floresceu a sociedade mesopotâmica, mas que apesar desse “sucesso” seus Estados nunca atingiram grandes proporções territoriais. E apesar de todos os fatores conclui-se que nunca houve um Estado mesopotâmico.

Cidades mesopotâmicas: Lagash, Uma, Kish, Ur, Uruk e Gatium (essas cidades não possuíam uma unidade política, cada cidade-estado era dotada de autonomia política e econômica, cada uma pertencia a um deus que era representado na figura do rei).
Esses eram povos que não se caracterizavam pela construção de uma unidade política, entre eles sempre predominavam os pequenos Estados onde cada um controlava seu próprio território rural e pastoril. Tinham governo e burocracia próprios. Em algumas ocasiões formavam-se Estados maiores, em função de guerras e alianças, mas estes Estados eram sempre monárquicos, sendo que o poder real era caracterizado de origem divina. Porém, essas alianças eram apenas temporárias.

Uma das fontes de referência para o estudo da Mesopotâmia é a bíblia, nela se fazem referências as cidades de Ur, Nínive e Babilônia. Muitas das histórias contidas no Antigo Testamento são, possivelmente, derivadas de tradições dessa região, por exemplo, o diluvio. Ao se estudar a Mesopotâmia deve-se saber que as informações encontradas estarão fragmentadas e esperas, já que as escavações só tiveram início no século XIX e ainda hoje muitas lacunas ainda permanecem sem respostas.

Economia: A principal atividade econômica na Mesopotâmia era a agricultura. Esses povos ainda mantinham contato com povos vizinhos e possuíam um comércio a base de trocas (a moeda ainda não era utilizada). A partir do milênio III essas cidades intensificaram as atividades comerciais entre si e os templos passaram a gerir economia, e para armazenar os alimentos coletados eram construídos Zigurates, enormes prédios em formato cilíndrico que serviam como uma espécie de “estoque de alimentos” daquela cidade. O surgimento dos primeiros núcleos e centros urbanos nessa região foi acompanhado de um complexo e necessário sistema hidráulico, isso porque, favorecia a utilização dos pântanos, evitava inundações (as enchentes na Mesopotâmia eram muito mais violentas e sem uniformidade, isso porque essa região, como já visto, localizava-se em meio a dois rios que corriam em sentidos opostos) e garantia o armazenamento de agua nas estações mais secas.

Sumérios e Acadianos: Foram, provavelmente, os primeiros a habitar o sul da Mesopotâmia, ocuparam essa região por volta do ano 5000 a.C e ali construíram as primeiras cidades que a humanidade tem conhecimento, como Ur, Uruk e Lagash. Essas cidades foram erguidas sobre colinas e fortificadas para que pudessem ser defendidas de outros povos. Sua organização política era muito semelhante a uma confederação de cidades-Estados, governadas por um chefe religioso e militar que era denominado patesi.
Como a maioria dos povos antigos, os sumérios eram politeístas, porém, os deuses serviam muito mais para “resolver” problemas terrenos do que para desvendar enigmas pós vida. Cada cidade suméria possuía seu Deus “comandante”. Na visão dos sumérios, os deuses tinham comportamento parecido com o das pessoas, praticavam o bem e o mal, e eram muito mais temidos do que amados.
São conhecidos pelo desenvolvimento da escrita cuneiforme (o registro feito em placas de argila com auxílio de estilete que imprimia traços em forma de cunha) e desde o quarto milênio a.C possuíam um complexo e completo sistema de controle de agua dos rios. Realizavam também obras de irrigação, barragens e diques, utilizavam técnicas de metalurgia do bronze.
Sua organização social influenciou muitos povos que os sucederam na região.
Por volta do ano 2550 a.C povos nômades vindos do deserto da Síria começaram a penetrar os territórios ao norte das regiões sumerianas, conhecidos como acadianos, em pouco tempo esses povos dominaram as cidades-Estados da Suméria. Por volta de 2400 a.C conseguiram impor a sua hegemonia. Já em 2330 a.C, o rei acadiano Sargão I promoveu a unificação da porção centro-sul da Mesopotâmia.
O período de ascensão do império acadiano foi muito curto, isso porque diversas tentativas de invasão militar enfraqueceram seriamente sua unidade política e territorial. Em 2180 a.C os gutis (povos originários das montanhas da Armênia) empreenderam uma grande ofensiva contra as cidades mesopotâmicas, somente a cidade de Ur conseguiu reagir e impor sua dominação, entretanto, por volta de 2000 a.C os povos elamitas (viviam no Sudoeste do atual Irã) deram fim à supremacia acadiana.

Amoritas ou Antigos babilônicos: com o declínio do Império fundado por Sargão, destacou-se na Mesopotâmia um grande e unificado Império que tinha como centro administrativo a cidade da Babilônia, situada às margens do rio Eufrates. Os primeiros amoritas eram povos semitas, provenientes da Arábia, edificaram ali o Primeiro Império Babilônico, este povo também é conhecido como “antigos babilônicos”, que os diferencia dos caldeus, fundadores do Segundo Império Babilônico, denominados neobabilônicos.
O soberano que mais se destacou foi Hamurabi (1728 a 1686 a.C) elaborando leis que ficaram conhecidas como Código de Hamurabi, que tinha como base um código sumeriano “Ur-nammu”. Apresentava uma série de penas para delitos domésticos, comerciais, ligados à propriedade, à herança, à escravidão e a falsas acusações, sempre baseadas nos princípios da Lei de Talião, ou seja, “olho por olho, dente por dente”. Após sua morte, a Mesopotâmia foi abalada por sucessivas invasões, até a chegada dos assírios.

Assírios: de origem semita, viviam do pastoreio e habitavam as margens do rio Tigre. A partir do final do segundo milênio a.C passaram a se organizar como uma sociedade altamente militar e expansionista. Eles chegaram a expandir seus domínios para além da própria Mesopotâmia, chegando ao Egito. O centro administrativo do Império assírio era Nínive, onde foi feita a biblioteca de Assurbanipal (nome de um dos reis assírios que mais se destacou durante o Império), com mais de 22 mil placas de argila.
O exército assírio sem dúvida foi um dos mais notáveis da Antiguidade, fato esse que proporcionou aos assírios o poder de conquistar diversos territórios. Um dos motivos de seu exército ser sempre numeroso e poderoso era o fato do alistamento obrigatório que eles implementaram nos povos que dominados. Alguns historiadores acreditam que os assírios pudessem colocar até 100 mil homens em campo. Mas, apesar de possuir um imenso exército o Império não conseguiu se sustentar, em grande parte pelo fato de que a maioria dos povos dominados pelos assírios não gostava do regime militar e cruel ao qual eram submetidos.

Caldeus: povo de origem semita que se estabeleceu na Baixa Mesopotâmia no início do primeiro milênio. Estes foram os principais responsáveis pela derrota dos assírios e pela organização do novo império babilônico. Nabucodonosor foi o soberano mais conhecido dos caldeus, ficou famoso pela construção dos Jardins Suspensos da Babilônia e da Torre de Babel, ele governou por quase sessenta anos, após sua morte os persas dominaram o novo império babilônico. O Império dos caldeus durou apenas 73 anos e depois foi incorporado ao Império Persa.

Elementos das sociedades da Mesopotâmia: a forma predominante na Mesopotâmia baseou-se na propriedade coletiva das terras administradas pelos templos e palácios. Os templos era que recebia toda a produção, distribuindo-a de acordo com as necessidades. Administradas pelos sacerdotes, as terras que teoricamente pertenciam aos deuses, eram entregues aos camponeses. Cada família recebia um lote de terra e deveria entregar ao templo uma parte da colheita como pagamento pelo uso útil daquela terra.

Escravidão: entre os sumerianos havia escravidão, porém, o número de escravos era relativamente baixo.

Controle dos rios: como o fluxo das aguas dos rios Tigres e Eufrates não eram nada regulares, em um ano poderia haver uma grande seca e em outras inundações violentas e destrutivas, desse modo era necessário a construção de canais para manter algum tipo de controle sobre os rios, mas esse controle exigia numerosíssima mão-de-obra, que o governo recrutava, organizava e controlava.

Agricultura: era a base da economia. Cultivavam: trigo, cevada, linho, gergelim, arvores frutíferas, raízes e legumes. Os instrumentos de trabalho eram rudimentares, em geral, pedra, madeira e barro. O bronze, que foi introduzido na segunda metade do terceiro milênio a.C, mas uma verdadeira revolução só veio a ocorrer com a sua utilização já no final do segundo milênio antes da Era Cristã quando aprenderam a usar o arado semeador, a grade e carros de roda.

A criação de animais: como carneiros, burros, bois, gansos e patos era bastante desenvolvida.

O comércio: os comerciantes, nessas cidades, eram funcionários a serviço dos templos e dos palácios, mas apesar disso podiam fazer negócio por conta própria. A situação geográfica e a escassez de matérias primas favoreciam os empreendimentos mercantis. As caravanas de mercadores iam vender seus produtos e buscar matéria prima como o marfim na Índia, a madeira no Líbano, o cobre no Chipre e o estanho de Cáucaso. Exportavam tecidos de linho, lã e tapetes, além de pedras preciosas e perfumes. As transações comerciais eram feitas na base da troca, criando um padrão de troca inicialmente representado pela cevada e depois pelos metais que circulavam, porém, sem jamais atingir a forma de moeda.
A existência de um comércio intenso foi o que deu origem a uma organização econômica solida que realizava operações como empréstimos a juros e corretagem. Usavam recibos, escrituras e cartas de crédito. O comércio foi uma figura importante na sociedade mesopotâmica, provocou mudanças significativas que acabaram por influenciar na desagregação da forma de produção templário-palaciana dominante na Mesopotâmia.

Principais ciências estudadas: a astronomia, entre os babilônicos, foi a principal ciência, as torres dos templos serviam de observatório astronômicos; conheciam a diferença entre os planetas e estrelas e sabiam prever eclipses lunares e solares; dividiram o ano em meses e os meses em semanas, as semanas em sete dias, os dias em doze horas, as horas em sessenta minutos e os minutos em sessenta segundos. Os elementos astronômicos criados pelos babilônicos serviram de base para a astronomia dos gregos, dos árabes e deram origem a astronomia dos europeus.
A matemática entre os caldeus alcançou um grande progresso, as necessidades do dia-a-dia os levaram a realizar multiplicações, divisões, raízes quadradas e cúbica, equações de segundo grau, além disso, dividiram o círculo em 360 graus.
O pregresso no campo da medicina também foi grande na Mesopotâmia, principalmente na catalogação de plantas medicinais. Os médicos na Mesopotâmia, cuja profissão era bastante reconhecida, não acreditavam que todos os males tinham origem sobrenatural, já que utilizavam medicamentos à base de plantas e realizavam tratamentos cirúrgicos, embora o médico trabalhava sempre com um exorcista, para expulsar os demônios e recorria aos adivinhos para diagnosticar os males.
A escrita cuneiforme é a grande realização dos sumérios, usada pelos sírios, hebreus e persas. Surgiu ligada as necessidades de contabilização dos templos, além da necessidade humana de garantir a comunicação e o desenvolvimento das técnicas. Eles procuravam representar os sons da fala humana, isto é, cada sinal representava um som, surgia assim a escrita fonética que no segundo milênio a.C já era utilizada nos registros de contabilidade, rituais mágicos e textos religiosos.
Henry C. Rawlinson foi quem decifrou a escrita cuneiforme, graças as inscrições da Rocha de Behistun, na qual estava gravada uma gigantesca mensagem de 20 metros de comprimento por 7 de altura, a mensagem foi talhada na pedra pelo rei Dario e ali Rawlinson identificou três tipos diferentes de escrita (antigo persa, elamitas e arcádio – também chamado de assírio ou babilônico). O alemão Georg Friederich Grotefend e o francês Jules Oppent também se destacaram nos estudos da escrita sumeriana.
Na literatura, ainda há muitos textos em vias de decifração e tradução, mas uma característica comum à maioria dos textos é sua origem estatal. Há ainda crônicas sobre feitos de governantes e dos deuses, hinos, fabulas, versos, além de anotações de comerciantes.
No Direito, o Código de Hamurabi, até pouco tempo, o primeiro código de leis que se tinha noticia, é uma compilação de leis sumerianas com tradições semitas, contem 282 leis, abrangendo praticamente todos os aspectos da vida babilônica. Esse código reflete a preocupação em disciplinar a vida econômica e garantir o regime de propriedade privada da terra. Mas, anterior ao Código de Hamurabi, tem-se o Código de Ur-Nammu, descoberto de 1952 pelo assiriólogo e professor Samuel Noah Kromer.
Nas artes, a arquitetura se destacava (porém, ainda não mais notável que a egípcia), caracterizou-se pelo exibicionismo e pelo luxo em templos e palácios. Essas construções eram feitas de argila, ladrilhos e tijolos. As muralhas construídas por Nabucodonosor, por exemplo, eram tão largas, que sobre elas realizavam-se corridas de carros. Ainda na arte, a pintura e a escultura eram apenas decorativas; as esculturas eram pobres, representadas pelo baixo relevo e um dos raros testemunhos da pintura mesopotâmica foi encontroado no Palácio de Mari, descoberto entre 1933 e 1955, com tintas extrema mentes vulneráveis ao tempo, os poucos fragmentos encontrados é possível perceber o seu brilho e vivacidade.
A música na Mesopotâmia, principalmente entre os babilônicos, estava ligada a religião. Cantavam hinos em louvor dos deuses com acompanhamentos musicais. Em suas tradições haviam cantos de amor, de ódio, de guerra, cantos de caça, de evocação dos mortos, cantos para favorecer os viajantes, o estado de transe. A dança é mimica, aplica-se a todas as coisas – há danças para fazer chover, para guerra, de caça, de amor e etc.

Religião: uma religião onde os deuses eram extremamente numerosos, eram representados à imagem e semelhança dos seres humanos, além disso, elementos da natureza também eram cultuados. Como já dito, cada cidade possui seu próprio deus ao qual construíam templos e dedicavam canções. Esses deuses podiam representar tanto o bem quanto o mal.
O centro da civilização era o templo, a casa dos deuses que governava a cidade, além de ser também o centro da acumulação de riqueza. O patesi representava o deus e combinava poderes políticos e religiosos. Nos templos apenas os sacerdotes podiam entram e deles eram a total responsabilidade de cuidar da adoração aos deuses e fazer com que eles atendessem as necessidades da comunidade. Eles eram livres do trabalho no campo, apenas dirigiam os trabalhadores na construção de canais de irrigação, reservatórios e diques. O deus, através dos sacerdotes, emprestava aos camponeses animais, sementes, arados e arrendava os campos, e ao paga o “empréstimo” o devedor deveria acrescentar uma “oferenda” de agradecimento. A concepção de uma vida além-túmulo era confusa. Acreditavam que os mortos iam para junto de Nergal, o deus que guardava um reino de onde não seu podia voltar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Historiografia #1 - Um Breve Resumo Sobre a Escola Metódica.

Contexto histórico francês: A Escola Metódica surge na França, no início do século XIX, uma França de forte sentimento patriótico graças a formação de uma unidade nacional. Até então, na França haviam muitas histórias, mas o contexto da III Republica trazia um forte sentimento patriótico e de formação nacional, como já dito. Por conta disso, fazia-se necessário construir uma história que tivesse significado para sua população; era preciso que a população francesa olhasse para trás, para sua história e sentisse segurança para afirmar o presente. Ao longo do século XIX com todo esse contexto vivido na França, em formar cada vez mais cidadãos patriotas é realizado uma reforma no ensino, em todos os âmbitos, primário, secundário e superior. Ernest Lavisse então elabora, juntamente com um grupo de historiadores, uma coleção intitulada História da França, publicada em 1900, em nove fascículos. Essa ampla reconstituição da história francesa privilegiou o campo político, dando foco nas...

História do Brasil #1 - Um Breve Resumo Sobre os Descobrimentos Portugueses.

História do Brasil. Os Descobrimentos Portugueses. Contexto : Ao final da Idade Média, os europeus conheciam apenas uma parcela do mundo, resumidas no Oriente Médio, norte da África e as Índias (nome genérico que usavam para designar o território localizado no extremo Oriente, isso é, leste da Ásia). E ainda, a maioria dos europeus apenas conhecia essas regiões através de relatos, como os feitos por Marco Polo, que partiu de sua cidade em 1217, acompanhado de seu pai e seu tio. Nesse período, a América e a Oceania eram totalmente desconhecidas pelos europeus. As informações contidas pelos europeus estavam em muitos aspectos incompletas ou possuíam, em sua maior parte, elementos fantasiosos, isso era uma herança deixada pela Idade Média. Mas isso começou a mudar nos séculos XV e XVI, quando exploradores europeus, principalmente, espanhóis e portugueses começaram a se aventurar pelos mares, até então desconhecidos. Tudo isso deu origem à um período que ficou conhecido c...

Fichamento #1 - Caras e Modos dos Migrantes e Imigrantes.

CARAS E MODOS DOS MIGRANTES E IMIGRANTES. História da Vida Privada no Brasil - vol 2. Aqui os autores Luis Felipe de Alencastro e Maria Luiza Renaux visam mostrar o fenômeno imigratório ocorrido no Brasil Império; detalham cada uma dessas ondas imigratórias, contando como era o cotidiano dessas pessoas que vinham por opção ou necessidade para o Brasil; mostra ainda, as atitudes tomadas por parte do governo para atrair imigrantes específicos com o objetivo de “branquear” a sociedade e isso é mostrado pelo grande número de imigrantes italianos e alemães que chegaram ao país nesse período; aqui vale ressaltar que teve uma tentativa de trazer imigrantes japoneses, mas por conta também do preconceito racial foi deixado de lado. É uma obra prima que detalha a vida privada desses imigrantes de forma completa. Conta-se os motivos de sua vinda para o Brasil, as dificuldades que encontravam no caminho e principalmente aqueles que enfrentaram quando aqui chegaram, uma cultura diferente,...