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História Antiga #3 - Um Breve Resumo Sobre os Reis Persas e Seu Império.


Império Persa e Seus Reis
O reino da Pérsia não começou como uma civilização, mas sim como um pequeno povo originário das tribos da Ásia Central chamado Indo-Europeu, que ocupava a região do atual planalto do Irã.
A primeira dinastia dos Persas se chamava Aquemênida, sendo o primeiro que seu primeiro rei foi Ciro, o Grande, que conquistou o segundo Império Babilônico comandado pelo rei Nabucodonosor.


O Rei Ciro da Pérsia.
Segundo Heródoto, o avô de Ciro, Astíages, rei do Império Medo, teria sonhado que seu neto destruiria o reino e dominaria toda a Ásia. Assim, Astíages mandou com que um de seus serviçais, Harpago, pegasse a criança e matasse nas montanhas, mas este ficou com pena de Ciro e o entregou a um pastor local que acabou criando Ciro por um tempo até que ele tivesse plena consciência de sua linhagem real. A mãe de Ciro, Mandane, era filha de Astíages, mas seu pai, Cambises, era um nobre que controlava a Pérsia, região onde hoje é o estado do Irã, e na época um reino submisso aos medos.
Quando Ciro chegou ao poder na Pérsia, em 559 a.C, ele uniu-se a Harpago e comandou uma revolta contra Astíages. Harpago desejava a vingança contra Astíages, já que o rei, sabendo do não cumprimento da ordem por parte de seu serviçal, mandou matar o filho deste. Derrotado, Astíages foi mandado à presença de Ciro para um julgamento, mas o neto acabou por perdoar o seu avô. Assim, sem nenhum rei para se opor a Ciro ele invadiu Ecbátana, capital da Média, e tomou o poder daquela vasta área já controlada pelos medos.
Esse relato, assim como muitos outros da mesma época, de uma remota época, mistura o mito e a realidade. No entanto, mostra bem como ao tomar o trono dos medos Ciro abriu uma nova etapa na História da Antiguidade.

Depois da primeira vitória, a expansão: ao controlar toda a região ates submissa aos medos, Ciro fundou o Império Persa e passou a reinar sobre uma vasta área que ia da Capadócia, no Oeste, até a Ária, a leste, também fazendo fronteira com os montes Cáucasos ao norte e a Assíria e a Babilônia ao sul. Ciro não ficou parado, no início, esperou o crescimento populacional de seu povo (um assunto que já exigia muita atenção do rei) e partiu para as campanhas de conquista, buscando terras para ampliar cada vez mais as plantações e os espaços de criação de gado, além de claro, submeter novos povos ao pagamento de impostos. A primeira grande conquista militar de Ciro aconteceu em 546 a.C na região da Lídia e das colônias gregas da Ásia Menor, territórios esses que os medos tentavam conquistar haviam décadas, mas que nunca tiveram sucesso. Ciro ainda conquistou a região do Turquestão, a leste, expandindo ainda mais o território de seu Império. Em 539 a.C conquistou a região da Babilônia, fato esse que o ajudou em suas relações com os fenícios e os hebreus, povos que viviam sob o domínio dos governantes da Babilônia. Ao conquistar essa região, conta as histórias que Ciro proclamou:

 “Eu sou Ciro, rei do mundo, grande rei, rei legitimo, rei da Babilônia, rei da Suméria e de Acade, rei das quatro extremidades, filho de Cambises, grande rei, rei de Anzã, ... descendente de Teíspes ... de uma família [que] sempre [exerceu] a realeza”.

Mas, como Ciro conseguiu submeter tantos povos ao seu domínio e criar, na época, um dos maiores impérios da Antiguidade? Graças as suas estratégias: conquista e tolerância. Ciro foi um imperador habilidoso tanto na conquista como em sua administração e manutenção dos povos conquistados. Seus soldados usavam táticas de invasão com apoio de arqueiros e cavaleiros. Após a conquista, Ciro procurava manter os líderes locais em seus devidos cargos administrativos, demonstrando piedade com os vencidos e ainda não proibia o culto original daqueles povos, ou seja, havia muita tolerância religiosa.
O Império Persa cobrava impostos dos povos que dominavam, e estes sim deveriam ser respeitados e pagos com frequência. Cada região dominada ficava sob o comando de um sátrapa, que era o principal governante local, uma espécie de secretário-geral, ou até mesmo um governador da região. Essa escolha dava aos povos conquistados uma relativa autonomia interna, mesmo dominado pelos persas. Ainda falando de sua administração, Ciro, para impedir a corrupção, ordenou que fosse montada uma grande rede de espionagem, que era formada por funcionários go governo, eles ficaram conhecidos como os “olhos e ouvidos do rei”; essa organização criada por Ciro para cobrar impostos, administrar o império com chefes locais e ainda utilizar funcionários estatais para auxiliar a administração mesmo nos lugares mais distantes do império deu tão certo que séculos depois o macedônio Alexandre conquistou a região e continuou utilizando a estrutura administrativa dos persas.
Ciro foi também o responsável pela libertação dos judeus do cativeiro da Babilônia, iniciando uma série de eventos que culminariam com a reconstrução de Jerusalém.

A queda de Ciro: a ira da rainha Tomiris. Ciro morreu em 530 a.C em meio a uma batalha contra os massagetas, uma tribo seminômade que vivia na região próxima ao Mar Cáspio e o Mar Aral. Ciro foi aconselhado por Creso, ex-rei da Lídia, a atacar os massagetas, pois suas forças poderiam, um dia ameaçar as fronteiras do Império Persa. Inicialmente, Ciro enviou uma comitiva diplomática para oferecer uma proposta de casamento para a rainha dos massagetas, Tomiris, mas que não foi aceita. Ciro então invadiu o território dos massagetas e foi desafiado para uma luta honrada pela rainha. Só que ao saber da pouca familiaridade dos massagetas com o vinho, Ciro deixou poucos homens, muita comida e vinho em um acampamento e simulou uma fuga. Um dos generais de Tomiris, e que também era seu filho, Spargapise, invadiu o acampamento, matou os poucos soldados que ali estavam e deixou seus subordinados aproveitarem a comida e a bebida deixada pelos persas. Já com os soldados massagetas bêbados os persas retornaram para o acampamento no meio da noite e viram ali um alvo fácil. Spargapise envergonhado com a derrota cometeu suicídio. A rainha Tomiris, jurando vingança pela morte de seu filho, liderou o seu exército em uma grande batalha contra os persas. Após uma violenta batalha onde morreram muitos persas, Ciro também caiu frente ao exército massagetas. Tomiris pediu que a cabeça de Ciro fosse trazida até ela, que a pegou e colocou-a dentro de uma bacia com sangue.
Essa é apenas uma das inúmeras versões que contam da história da morte de Ciro. Muitas relatam a derrota militar das tropas persas que acompanhavam o rei e sua morte em batalha; outra versão conta que Ciro morreu serenamente em Pasárgada, cidade que era a capital do Império Persa e numa terceira versão dizem que as tropas persas foram vencidas e Ciro morto enquanto lutava, mas que teve seu corpo resgatado por seus soldados e que até hoje descansa em uma tumba nas ruinas de Pasárgada, que estão de pé até hoje.
Após a morte de Ciro, seu filho Cambises II assume o lugar do pai e continuou os planos de expansão do Império Persa, mas toda a região governada por eles só veria mudanças realmente significativas sob o reinado de Dario, o próximo rei persa.

Os benefícios do reinado de Ciro para civilização: por suas habilidades como líder, o império fundado por Ciro manteve a sua existência por mais de duzentos anos até a conquista definitiva de Alexandre, o Grande em 332 a.C; como um líder militar, Ciro deixou um eterno legado sobre a arte da liderança e de tomada de decisões; Ciro, o Grande, respeitou os costumes e religiões das terras que conquistava; em seu modo de governar encontramos uma administração que embora centralizada, instituiu um governo que também trabalha para o proveito de seus súditos.

Citações bíblicas: o profeta Daniel cita a estátua de Nabucodonosor que possuía a cabeça de ouro, o peito e os braços de prata, da cintura até os joelhos era bronze e as pernas e pés de ferro; outra citação bíblica sobre os persas foi o episódio em que Neemias, copeiro do Rei Ciro fica sabendo da destruição da cidade de Jerusalém.


Dario I.
Cambises morreu sem deixar nenhum herdeiro, foi quando descobriram um comandante no Egito que mesmo não sendo o sucessor legitimo tomou o trono, com a ajuda do conselho de nobres que achou um parentesco distante de Dario com Ciro II, desse modo, o conselho o reconheceu como Rei. Dario reinou de 512 a 484 a.C.
O início de seu reinado foi dedicado a pacificar o grande território e consolidar ainda mais o poder do Império Persa. Teve que cuidar da rebelião dos gregos jônicos no ano de 500 a.C; em 490 a.C Dario enviou a Atenas um pequeno exército para que a cidade-Estado fosse punida por ajudar na rebelião dos jônicos. Dario, por um lado, conseguiu reprimir as revoltas, mas foi derrotado pelos gregos na batalha que mais tarde ficaria conhecida como Batalha de Maratona, que por sua vez desencadeou as chamadas Guerras Persas, travadas entre Grécia e Pérsia. Depois de cuidar dos assuntos internos, partiu para as conquistas. Anexou o território que hoje é o Paquistão. Nas Guerras Persas, o sucessor de Dario, Xerxes, incendiou Atenas em 480 a.C, mas acabou derrotado naquele mesmo ano. Esse acontecimento marca o início do declínio do Império Persa completado em 330 a.C quando foram dominados por Alexandre, o Grande.
Foi no reinado de Dario que o zoroastrismo se firmou. Essa religião surgida no Irã por volta do ano de 600 a.C traz em seus conceitos ideias conhecidas como a ressurreição, julgamento final, céu e inferno que mais à frente iriam influenciar o islamismo, o judaísmo e o cristianismo, religiões que se tornaram mundiais.
Dario I foi o rei que teve a grande ideia de dividir o imenso território dominado pelos persas em satrapias. O número de satrapias varia de acordo com o período, inicialmente foi organizado por Dario em vinte províncias, seu princípio foi a base do sucesso do governo persa. Como funciona? Uma satrapia, de modo geral, era determinada por região ocupada por um povo especifico, por cidades autônomas ou outras características, ou seja, era um governo dentro de outro governo. Nesse território o poder é delegado aos sátrapa, que são escolhidos pelo Rei. E como o responsável por essa região fazia parte do povo havia respeito pela religião, leis, costumes, língua de cada satrapia. Esse chefe deveria receber os impostos, promover a justiça e zelar pelo território que estava sob sua responsabilidade, inclusive, formando um exército para servir as necessidades do rei quando esse o solicitava. Por nomear os sátrapa, uma espécie de “rei local” o Rei dos persas era chamado de Rei dos Reis.
Um sátrapa era auxiliado por um escriba e um general, ambos de confiança do Rei e que só respondiam ao próprio Rei. Sua função era observar e relatar tudo o que acontece em seu imenso território, assim como já dito mais acima no texto, essas pessoas eram chamadas de olhos e ouvidos do Rei; era de acordo com suas conclusões que o Rei podia tanto premiar um sátrapa por sua administração ou o punir com a morte aqueles que não estivessem desempenhando bem suas funções ou estivesse tramando contra seu governo.
Dario I ainda estabeleceu um eficiente sistema de taxas administrativas e construiu no ano de 500, uma estrada de 2.400 km, de Susa, no atual Irã, a Éfeso, na Turquia. Essa estrada ficou conhecida como Estrada Real, e por ali que passava os impostos recolhidos nas satrapias até a capital do Império, por ali também passava o correio criado por Dario e elogiado por Heródoto em um de seus livros, isso porque, a cada 100 km havia um posto de troca de cavalos para que o mensageiro pudesse enviar a mensagem no menor tempo possível. Dario ainda unificou o império sob uma mesma moeda.
Sob de Dario o Egito foi organizado como 6ª satrapia, juntamente com vários oásis do Oeste e a Cirenaica e com a conclusão do canal entre o Nilo e o Mar Vermelho, iniciado por Neco II, Dario conectou a força econômica egípcia à economia das demais religiões do Império Persa. Manteve no Egito uma política interna amistosa com os sacerdotes, mas ao mesmo tempo mantinha o Egito com uma vigilância constante. Para os egípcios, Dario foi um bom governante, mas quando foi derrotado na Batalha de Maratona eles viram que os persas não eram invencíveis, assim as rebeliões se intensificaram no Egito.
Dario I morreu no ano de 480 a.C numa batalha contra os gregos e assim como Ciro, foi um grande Rei que só consolidou ainda mais o Império Persa como um dos maiores de todos os tempos.




Aqui temos um mapa de toda aquela região, na época, e com ele podemos perceber a grandiosidade territorial conquistada por esse Império.

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